Resumo de Livro

Comentários do Livro Iracema, de José Alencar

No século XIX, os condutores do Brasil se dividiam entre a origem portuguesa e os interesses nacionais. Aqueles que desejavam tornar o país uma grande nação não tinham um passado coerente, só esperavam o futuro, não sabiam como traçar o perfil de uma identidade brasileira.

O indianismo romântico nasceu numa jovem nação libertada, que precisava “inventar” um passado heroico, mítico, lendário, lançar arquétipos de nacionalidade, encontrar um rosto que nos identificasse e nos distinguisse da Europa. Gonçalves Dias e Alencar fundaram a mitologia indianista num mundo edênico. Todavia, as raízes europeias fizeram de nosso índio o “bom selvagem” de Rousseau, personagem de um povo colonizado dependente da Europa, em busca de autoafirmação. Por isso se elaborou má visão artificial de nossas origens e o perfil europeizante e cavalheiresco de nosso índio, situação satirizada pelos modernistas, principalmente Oswald de Andrade.

O indianismo de Alencar foi, portanto, uma proposta de valorizar o passado e de delinear o retrato do brasileiro: “Ubirajara”, antes da efetiva colonização portuguesa, selvagens alheios a qualquer influência estrangeira; “Guarani”, durante a colonização portuguesa, que foi desaparecendo por ação da natureza e pela promessa de outra raça (Ceci e Peri); “Iracema” cumpre esse objetivo de modo mais humano, menos épico, sob a forma de lenda apoiada sobre fundamento histórico (Alencar recorre ao século XVII para construir a lenda da fundação do povo brasileiro).

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O livro saiu publicado em 1865, com o nome “Iracema” e com a indicação: lenda do Ceará.

Parece ter-se inspirado Alencar no livro “Atala e René” (1801), do francês Chateaubriand, que, por sua vez, foi uma versão das histórias imaginadas na Europa de então: náufrago europeu apaixonado por alguma nativa americana, africana ou asiática. (No caso de Chateaubriand, a história passa-se na região do baixo Mississipi, no início da extinção dos índios natchez, localizados em Luisiana, região da América Francesa).

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No prólogo, o próprio Alencar designou o livro como cearense, escrito dedicado aos cearenses por um cearense ausente. Ele oferece a seguinte fundamentação histórica da obra: em 1603, foi fundado o primeiro povoado colonial no Ceará, com o nome de Nova Lisboa, que veio a ser destruído pelos indígenas. Em 1608, reconstituiu-se a colonização numa expedição da qual participou Martim Soares Moreno, que ficou amigo de Jacaúna e Poti. Eles habitavam nas margens do rio Acaracu, mas acabaram estabelecendo-se nas proximidades do recente povoado, para protegê-lo contra os índios do interior e os franceses. Poti, que recebeu o nome cristão de Antônio Filipe Camarão, e Martim se celebrizaram por sua atuação na expulsão dos holandeses.

No epílogo, o autor afirmou ter sido sua intenção original construir um poema com o assunto. Contudo, iria ser um poema longo e talvez não compreendido pelos leitores. Acabou optando pelo romance, cujos erros da primeira edição ele gostaria de corrigir na segunda edição.

Trata-se de uma lenda do Ceará, pois realizou a fusão dos mitos indígenas e dos elementos da natureza. Exemplos de mitos: nascimento de Moacir, primeiro cearense, primeiro brasileiro, primeiro homem americano, resultado primeiro da mistura das raças índia e portuguesa; morte de Iracema; retorno de Martim; conversão de Poti.

Alencar profetizou o que não viu sobre a nação brasileira que ele fazia nascer em “Iracema”: o filho da dor – ou seja, o brasileiro – só foi alimentado pela mãe à custa do próprio sangue dela, que morreu para que o filho vivesse e crescesse à imagem e semelhança do pai; as raças se uniriam sendo expulsas do paraíso inicial e se reequilibrando sem final feliz.

Significado fundamental da lenda sobre o amor de Iracema e Martim: representação do processo de conquista e colonização do Brasil (o desejo, a sedução, o amor declarado, a morte de Iracema — do Brasil primitivo —, a sobrevivência de Martim — o elemento branco — e do filho — o brasileiro miscigenado).

O argumento do livro pode assim ser resumido: os integrantes do casal-protagonista isolam-se de suas comunidades originárias (a inspiração lírica de um idílio amoroso envolve componentes épicos e históricos).

“A história de amor foi tragada pelo tempo (Tudo passa sobre a terra), enquanto o discurso pede passagem para debater a questão da nacionalidade.” (Eliana Yunes).

“Iracema” é um poema em prosa: no conteúdo, há o predomínio do lirismo na relação amorosa do casal protagonista, deixando em segundo plano a ação e abandonando o tom épico de “Guarani”; na forma, há linguagem sonora, plena de símiles (figuras de comparação) e de dípticos (símiles ampliados).

A linguagem rompeu com padrões estilísticos e gramaticais portugueses, sobretudo pelo emprego acentuado do vocabulário tupi, esforço de criação de um romance tipicamente brasileiro. Esse brasileirismo de Alencar não se restringiu apenas à linguagem, ele pretendeu adequar as características gerais do Romantismo europeu a uma mitologia indígena-nacionalista, para representar as origens do país em seu processo de colonização.

Na segunda edição, Alencar afirmou : “O conhecimento da língua indígena é o melhor critério para a nacionalidade da literatura. Ele nos dá não só o verdadeiro estilo, como as imagens poéticas dos selvagens, os modos de seu pensamento, as tendências de seu espírito, e até as menores particularidades de sua vida. É nessa fonte que deve beber o poeta brasileiro; é dela que há de sair o verdadeiro poema nacional, tal como eu o imagino”.

Créditos: SOSEstudante

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