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Personagens do livro Quincas Borba, de Machado de Assis

Personagens de Quincas Borba

As personagens de um romance são, evidentemente, as pessoas que vivem situações e dramas dentro da narrativa. Normalmente, só “gente” pode ser personagem de romance. Às vezes, “animais” também participam de romances e contos, como tem acontecido com freqüência na literatura moderna. É o caso de Quincas Borba, o cão, elevado à categoria de personagem do romance machadiano, como projeção e prolongamento, por metempsicose, do filósofo do mesmo nome.

Quincas Borba: em síntese, Quincas Borba se destaca pelos seguintes atributos: filósofo doido, esquisito, “com freqüente alteração de humor”, “ímpetos sem motivo”, “ternura sem proporção”, extravagante (cap. V), bom, alegre, lutava contra o pessimismo (cap. V) e desejava a sua continuidade através dos tempos como comprova a sua filosofia “borbista”, de natureza “humorística”, o Humanitismo. Depois que morreu, passou, por metempsicose, ao corpo do seu cão, como sugerem as dúvidas de Rubião ao longo da narrativa:

“Olhou para o cão, enquanto esperava que lhe abrissem a porte. O cão olhava para ele, de tal jeito que parecia estar ali dentro o próprio e defunto Quincas Borba; era o mesmo olhar meditativo do filósofo, quando examinava negócios humanos…” (cap. XLIX).

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Como ressalta o crítico Massaud Moisés, “encarnado-se em seu cachorro, Quincas Borba continuou a exercer enorme influência, pois eu fiel amigo é um contraponto constante na evolução dos acontecimentos, pelas vezes em que aparece contracenando com Rubião. A preeminência indiscutível do animal sobra s demais personagens, com exceção do Rubião, justifica-se por aquele intuito satírico geral que orienta a obra, levando o leitor a pensar em como apenas um cão se salva do mundo de misérias em que vivem as demais criaturas do romance. Se não se trata de elogio de animalidade inconsciente, ou da mera inconsciência, pois Quincas Borba é um cão diferente dos outros, por trazer dentro de si um filósofo idealista e sonhados, é, sem sombra de dúvida, um recurso de fábula semelhante aos usados por La Fontaine, um dos escritores mais apreciados por Machado de Assis”.

Rubião: de um modo geral, Rubião se caracteriza assim no romance: tem medo da opinião pública, é indeciso, volúvel, ambicioso (cap. I, X, XV), megalomaníaco, obsessivo, desequilibrado, tímido (cap. XXV), acomodado, ciumento, influenciável (cap. LXIX), conflituoso, ocioso, ingênuo.

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A sua megalomania, que o levará à sandice, tem desenvolvimento sutil e velado ao longo da narrativa: “A outra gente, que estava à porta e na calçada fez-lhe alas” (cap. LX); “Rubião teve aqui um impulso inexplicável, – dar-lhes a mão a beijar. Reteve-se a tempo, espantado de si próprio” (cap. XCI); “Tinha os olhos úmidos; acabou, saiu, ladeado pelos outros, e, à porta, com uma só chapelada para a direita e para a esquerda, saudou a todas as cabeças descobertas e curvas. Ao entrar no coupé, ainda ouviu estas palavras, a meia voz:

— Parece que é senador ou desembargador, ou cousa assim”(cap. CI)

Depois a megalomania vai aumentando claramente, à medida que sua herança decresce: é a loucura que está chegando com Napoleão III e a imperatriz Eugênia.

Enfim, à proporção que vai “enlouquecendo”, Rubião vai ficando cada vez mais “lúcido” – herdeiro da fortuna e do espírito do filósofo Quincas Borba, escapando, assim, à chacota e à sátira machadianas, a que são os únicos no livro, além do cão, que conseguem escapar. É que Machado de Assis só sabe ver o mundo através da “loucura e do delírio”.

Sofia: em linhas gerais, o perfil de Sofia, no romance, se delineia assim: vaidosa, orgulhosa, dominadora, fria, cautelosa, ambiciosa, sedutora, caráter ambivalente, frívola, sensual e dissimulada, como revela o cap. LXIX e o excelente cap. XLII, onde se saiu divinamente bem com a anedota do Padre Mendes, quando surpreendida, no jantar, com Rubião, pelo Major Siqueira:

“— Olá! Estão apreciando a lua? Realmente, está deliciosa; está uma noite para namorados… Sim, deliciosa… Há muito que não vejo uma noite assim… Olhem só para baixo, os bicos de gás… Deliciosa! Para namorados… Os namorados gostam sempre da lua. No meu tempo, em Icaraí…

Era Siqueira, o terrível major. Rubião não sabia que dissesse; Sofia, passados os primeiros instantes readquiriu a posse de si mesma; respondeu que, em verdade, a noite era linda; depois contou que Rubião teimava dizer que as noites do Rio não podiam comparar-se às de Barbacena, e, a propósito disso, referira uma anedota de um padre Mendes… Não era Mendes?

— Mendes, sim, o padre Mendes, murmurou Rubião.

O major mal podia conter o assombro. Tinha visto as duas mão presas, a cabeça do Rubião meio inclinada, o movimento rápido de ambos, quando ele entrou no jardim; e sai-lhe de tudo isto um padre Mendes… Olhou para Sofia; viu-a risonha, tranqüila, impenetrável. Nenhum medo, nenhum acanhamento; falava com tal simplicidade, que o major pensou ter visto mal. Mas Rubião estragou tudo. Vexado, calado, não fez mais que tirar o relógio para ver as horas, levá-lo ao ouvido, como se lhe parecesse que não andava, depois limpá-lo com o lenço, devagar, devagar, sem olhar para um nem para outro…”

Lembremos aqui a Capitu de Dom Casmurro com seus “olhos de ressaca” e natureza dissimulada, como fica explicitado ao longo do romance.

Mas, por falar em olhos, você notou a importância que Machado de Assis dá aos olhos de Sofia? Parece de propósito, como observa Cavalcanti Proença: os olhos seriam as janelas da alma. Afirmações do livro parecem confirmar a observação do crítico, como esta do cap. L:

“Rubião olhava para ela muita vez, é certo; parece também que Sofia, em algumas ocasiões, pagava os olhares com outros… Concessões de moça bonita! Mas, enfim, contanto que lhe ficassem os olhos, podiam ir alguns raios deles. Não havia de ter ciúmes do nervo óptico, ia pensando o marido.”

Noutra passagem, anotamos este encontro de Palha e Camacho carregado de humor:

Palha e Camacho olharam um para o outro… Oh! esse olhar foi como um bilhete de visita trocado entre duas consciências. Nenhuma disse o seu segredo, mas viram os nomes no cartão, e cumprimentaram-se”.

Enfim, concluindo, como ressalta Massaud Moisés, “seu papel acaba por ser duplo, pois representa a luxúria elegante e, ao mesmo tempo, serve de campo de prova para todo o drama de Rubião.

Palha: ambicioso, egocêntrico, vaidoso (cap. XXXV), bajulador, interesseiro, parasita, desonesto, astuto, torpe. “Rotulado por um nome que já lhe traduz o caráter e a personalidade, também se atira ao dinheiro e à posição social como se estivesse no caminho certo”.

Vagamente pensava em baronia, diz Machado no cap. CXXIX.

Carlos Maria: vaidoso, altivo (cap. LXIX), vazio, galanteador: é a caricatura do conquistador de frases feitas e lugares-comuns. Um aspecto que lhe é bastante característico é o de divindade, que Machado ironiza a toda hora. Casou-se para ser “adorado” pela esposa.

Maria Benedita: tímida, pacata, sem iniciativa, passiva, resignada, influenciável, personalidade fraca. Seu casamento com Carlos Maria que, à primeira vista, significou o encontro da felicidade tão longamente sonhada, não passa de um ludíbrio, em virtude do pouco amor que Carlos Maria lhe dedicava.

Dr. Camacho: é caricatura do politiqueiro demagogo de frase feita e retórica excessiva; astuto e interesseiro.

Major Siqueira: mexeriqueiro, inicialmente, e depois despeitado como se revela no cap. CXXX.

D. Tonica: o desespero desta “solteirona quarentona” já começa pelo nome: D. Tonica. Revela-se invejosa, revoltada, infeliz e frustrada.

D. Fernanda: casamenteira e um tanto fidalga. No mais, uma boa senhora e esposa dedicada que sabe consertar a gravata do marido nas horas necessárias… (modelo para as menininhas de hoje que nem consertam gravatas nem colarinhos…).

Teófilo: é o marido da superesposa acima: ambicioso, dinâmico e, às vezes, temperamental e minucioso, como no caso do “u” pelo “i” do cap. CXIX, em que um jornal torce todo o sentido da frase que escrevera: “Na dúvida, abstém-te, é o conselho do sábio. E puseram: Na dívida abstém-te… É insuportável!” comenta, quase chorando, o Teófilo que era forte candidato ao ministério…

Freitas: caricatura do parasita e dos glutões de jantares e de charutos alheios. Deus que o tenha na sua santa glória!

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