Guerra da Bósnia
A Guerra da Bósnia, formalmente conhecida como a Guerra na Bósnia e Herzegovina, foi um conflito armado que ocorreu entre 1992 e 1995. Esse conflito se insere no período pós-Guerra Fria, marcando uma das mais trágicas e complexas disputas da desintegração da antiga Iugoslávia. A Iugoslávia era uma federação composta por seis repúblicas (Eslovênia, Croácia, Macedônia, Montenegro, Sérvia e Bósnia e Herzegovina) e duas províncias autônomas (Kosovo e Voivodina), formada no pós-Primeira Guerra Mundial, e que começou a se desintegrar nos anos 90, resultado de tensões étnicas, nacionalistas e políticas internas acumuladas por décadas.
O início da década de 1990 foi marcado pela crescente demanda por independência entre as repúblicas que compunham a Iugoslávia. Após Eslovênia e Croácia declararem sua independência em 1991, a Bósnia e Herzegovina seguiu o exemplo em março de 1992, após um referendo que foi amplamente boicotado pela população sérvia do país. A independência bósnia não foi aceita pelos sérvios locais, que constituíam cerca de 31% da população, e desejavam permanecer na Iugoslávia, dominada pelos sérvios. Este impasse político e étnico foi o estopim para o conflito armado que se seguiu.
A Guerra na Bósnia e Herzegovina
Causas Principais
- Tensões Étnicas: A Bósnia e Herzegovina era um mosaico étnico, com populações de muçulmanos bósnios (44%), sérvios ortodoxos (31%) e croatas católicos (17%). As tensões entre estes grupos, exacerbadas por aspirações nacionalistas, foram catalisadores cruciais para o conflito.
- Nacionalismo Expansivo: O crescimento do nacionalismo sérvio e croata, visando criar Estados mais etnicamente homogêneos, levou a reivindicações territoriais sobre a Bósnia.
- Dissolução da Iugoslávia: A desintegração da Iugoslávia eliminou a frágil ligação que mantinha suas repúblicas unidas, liberando as tensões reprimidas por um Estado autoritário.
Desenvolvimento do Conflito
A guerra na Bósnia envolveu principalmente os muçulmanos bósnios contra os sérvios bósnios e, em menor grau, os croatas bósnios. Os sérvios, não querendo aceitar a independência bósnia e apoiados pela República Federal da Iugoslávia (Sérvia e Montenegro), procuraram conquistar território bósnio para criar uma terra contínua sérvia, enquanto os croatas visavam anexar partes da Bósnia à Croácia. Essa luta territorial se transformou rapidamente em uma guerra de desgaste, cidades sitiadas e limpeza étnica.
A comunidade internacional, inicialmente hesitante, interveio por meio da ONU e da OTAN, com esforços significativos para impor zonas seguras, embargos de armas que, paradoxalmente, muitas vezes prejudicaram a defesa bósnia, e campanhas aéreas contra os sérvios bósnios. O envolvimento da OTAN culminou em 1995, com ataques aéreos decisivos contra posições sérvias bósnias.
Acordo de Dayton e Consequências
- Fim do Conflito: O Acordo de Dayton, assinado em dezembro de 1995, marcou o fim oficial do conflito, dividindo a Bósnia e Herzegovina em duas entidades autônomas: a Federação da Bósnia e Herzegovina e a República Srpska.
- Perdas humanas e Deslocamentos: O conflito resultou em cerca de 100.000 mortos e 2,2 milhões de deslocados, sendo um dos conflitos mais sangrentos na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
- Legado de Trauma e Divisão: As relações entre sérvios, croatas e bósnios permanecem tensas, e a Bósnia e Herzegovina ainda enfrenta desafios significativos de reconstrução, reconciliação e integração étnica.
- Julgamentos por Crimes de Guerra: O Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPIJ) foi estabelecido para julgar os responsáveis por crimes de guerra, incluindo genocídio, marcando um precedente significativo na justiça internacional.
A Guerra da Bósnia, além de suas implicações imediatas e trágicas, deixou um legado de questões não resolvidas, como a busca por desaparecidos, a necessidade de justiça para vítimas de guerra e o desafio contínuo da coexistência étnica em uma nação profundamente marcada por divisões. Ela serve como um lembrete sombrio das consequências do nacionalismo extremo e da importância da diplomacia e da intervenção internacional para prevenir conflitos.
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