ENEM 2024 cobra análise sobre função desestabilizadora da arte em Graciliano Ramos e Antônio Prata
(ENEM/2024) Reflexão sobre a arte nos textos de Graciliano Ramos e Antônio Prata
TEXTO I
A 13 de fevereiro de 1946, Graciliano Ramos escreve uma carta a Cândido Portinari relembrando uma visita que lhe fizera quando tivera a ocasião de apreciar algumas telas da série Retirantes. Diz o escritor alagoano:
Caríssimo Portinari:
A sua carta chegou muito atrasada, e receio que esta resposta já não o ache fixando na tela a nossa pobre gente da roça. Não há trabalho nas digressões, pense ou: Dizem que somos pessimistas e exibimos deformações; contudo, as deformações e essa miséria existem fora da arte e são cultivadas pelos que nos censuram. […]
Dos quadros que você me mostrou quando almocei no Cosme Velho pela última vez, o que mais me comoveu foi aquela mãe com a criança morta. Sai de sua casa com um pensamento horrível: numa sociedade sem classes e sem miséria, seria possível fazer-se aquilo? Numa vida tranquila e feliz, que espécie de arte surgiria? Chego a pensar que teríamos cromos, anjinhos cor-de-rosa, e isto me horroriza.
Graciliano
Disponível em: https://graciliano.com.br. Acesso em: 6 fev. 2024 (adaptado).
TEXTO II
Histórias de ninar (adultos)
Houve um tempo — tão perto, e, ó, tão longe — em que a arte era um holofote na unha encravada, não um campeonato de melhores esmaltes.
Raskolnikov matava velhinhas, a família de Gregor Samsa o assassinava a “maçãzadas”, Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis) é o retrato mais perfeito de tudo que tem de pior na sociedade brasileira, uma sequência tristeiramente hilaria de ações moralmente condenáveis, atitudes pusilânimes, cálculos mesquinhos e os nossos pecados.
A literatura, o cinema e o teatro vêm se transformando num exercício de laca: o mal está sempre no outro, os protagonistas são ironmen/women da virtude. A porta está aberta, a tela aberta aos moralistas da vida, e assim sai com certas reaforcadas da realidade e confusa. Contraditória. Muitas vezes incompreensível. A arte é onde tentamos nos mostrar nus, com todos os nossos defeitos.
PRATA, A. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 12 jan. 2024 (adaptado).
No que diz respeito à arte, o posicionamento de Antônio Prata, no Texto II, aproxima-se do de Graciliano Ramos, no Texto I, uma vez que ambos
a) defendem a dignidade do ofício dos artistas.
b) concordam que a arte reforça crenças sociais.
c) expressam a necessidade de desestabilizar o leitor.
d) apresentam a pobreza como inspiração para a arte.
e) afirmam o anseio por mudanças significativas na produção artística.
Resolução da questão
Tanto Antônio Prata quanto Graciliano Ramos expressam uma visão da arte como uma forma de confrontar o público com as realidades incômodas e as mazelas da sociedade, em vez de suavizá-las ou esconder seus aspectos negativos. Ambos defendem que a arte deve desestabilizar o espectador ou leitor, provocando uma reflexão profunda e crítica. Assim, a alternativa correta é a letra C.
Resposta: C
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