Dom Casmurro – Estilo Literário
O estilo literário de Dom Casmurro
O Realismo é um estilo de época da segunda metade do séc. XIX, marcado por uma forte oposição às idealizações românticas. Assim, as personagens realistas apresentam mais defeitos do que qualidades, destacando-se as temáticas do adultério, dos interesses econômicos, da ambição desmedida, da dissimulação e da vaidade etc.
Os romances realistas sempre se fundamentam num caso de adultério, como se pode ver nos diversos autores da época (Eça de Queirós, Aluísio Azevedo etc). Em Dom Casmurro é exatamente a suspeita de adultério que sustenta o enredo do romance. Tudo se constrói em torno desse possível adultério de Capitu.
Entretanto, não há uma preocupação excessiva em contar a estória, preocupação maior é com a análise, uma análise dissecante e profunda, em que o escritor procura desnudar a personagem e revelar as suas entranhas. Sem dúvida por isso, Machado de Assis retroage à infância, tentando buscar a origem do problema focalizado.
Embora adote a primeira pessoa como técnica narrativa, o narrador de Dom Casmurro se coloca à distância: no extremo da vida (velhice), o protagonista masculino reconstitui o seu passado, assumindo assim um ângulo de visão marcado pela objetividade. Embora seja personagem da estaria e participe dela, o narrador coloca-se fora e ausente enquanto narra e reconstitui os fatos (“flash-back”).
A linguagem de Machado de Assis é marcadamente acadêmica: clássica, bem cuidada, regida pelas normas de correção gramatical. Entretanto, em alguns pontos, tal como ocorre no Modernismo, ele registra aspectos típicos da língua da personagem, como nesta fala de um vendedor de cocada:
– Sinhazinha, qué cocada hoje?
– Cocadinha tá boa…
Outra marca do estilo machadiano é a tendência para a frase sentenciosa e proverbial, como aquela em que compara a vida com uma ópera, atribuída ao tenor Marcolini: “A vida é uma ópera”.
Machado de Assis, entretanto, ultrapassou a própria estética realista, na qual está inserido, ao utilizar recursos narrativos que não são típicos dos demais autores de sua época, antecipando mesmo certos aspectos de modernidade, o que, aliás, contraria o que disse dele Mário de Andrade em Aspectos da Literatura Brasileira. O emprego do micro-capítulo e de técnicas cinematográficas são bons exemplos dessa modernidade.
Outro aspecto interessante é o uso freqüente de alusões, referências e citações que vão como que confirmando as suas idéias e pensamentos, o que, por outro lado, revela bem a espantosa cultura e erudição de Machado de Assis, adquiridas de forma autodidata como vimos.
Machado foi o mais fino analista da alma humana, mergulhando densamente na psicologia de suas personagens para decifrar-lhes os enigmas da alma, seus sofrimentos, pensamentos e retirando desse mundo íntimo um retrato humano e social até hoje insuperável.
Seu estilo não é linear, como nos demais realistas, mas digressivo, paródico e metalingüístico. Em Dom Casmurro, por exemplo, o narrador não se contenta em contar a sua história, mas parece conduzir o leitor por caminhos tortuosos através de sua memória e seus pensamentos antes de decifrar seu passado. Não satisfeito, parece adiar ainda mais os fatos na tentativa de explicar a própria obra (metalinguagem), justificando-se com ele (leitor incluso) ou ironizando-o.
Dom Casmurro
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