Literatura

Questões do livro Quincas Borba – UERJ/2025

01) Capítulo I
Rubião fitava a enseada – eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.

No primeiro parágrafo do romance, o personagem manifesta uma percepção do mundo que revela uma postura de:

a) idealização da vida urbana
b) interesse pelo convívio íntimo
c) busca de respeito profissional
d) fascínio pela ostentação pessoal

Publicidade

02) Em Quincas Borba, os personagens se movimentam no contexto de emergência do capitalismo no Brasil.
Em relação a esse contexto, o protagonista Rubião pode ser melhor identificado pela seguinte figura de linguagem:

a) antítese
b) hipérbole
c) eufemismo
d) metonímia

Publicidade

03) Capítulo VI
– (…) Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
– Mas a opinião do exterminado?
– Não há exterminado. Desaparece o fenômeno; a substância é a mesma. Nunca viste ferver água? Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são essas bolhas transitórias.
– Bem; a opinião da bolha…
– Bolha não tem opinião. Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa.

O trecho acima sustenta a filosofia do Humanitismo, defendida por Quincas Borba. Essa filosofia faz caricatura dos princípios deterministas do século XIX.

Com base nessa filosofia, os indivíduos podem se sentir autorizados à seguinte prática:

a) valorizar o luxo
b) neutralizar o vício
c) defender a guerra
d) pregar a tolerância

04) Capítulo XI
“Faleceu ontem o Sr. Joaquim Borba dos Santos, tendo suportado a moléstia com singular filosofia. Era homem de muito saber, e cansava-se em batalhar contra esse pessimismo amarelo e enfezado que ainda nos há de chegar aqui um dia; é a moléstia do século. A última palavra dele foi que a dor era uma ilusão (…).”
A expressão suportar com filosofia denota o seguinte sentimento:

a) espanto
b) aceitação
c) animosidade
d) constrangimento

05) Capítulo XXXV
Ia muita vez ao teatro sem gostar dele, e a bailes, em que se divertia um pouco – mas ia menos por si que para aparecer com os olhos da mulher, os olhos e os seios. Tinha essa vaidade singular; decotava a mulher sempre que podia, e até onde não podia, para mostrar aos outros as suas venturas particulares.

O trecho acima se refere à relação entre Cristiano Palha e sua esposa, Sofia Palha. A necessidade do marido de “mostrar aos outros as suas venturas particulares” configura-se como uma contradição.
A contradição se forma porque:

a) a vontade da esposa é reprimida
b) a intimidade do casal é exposta
c) a intenção do marido sobressai
d) o amor da relação desaparece

06) Capítulo XLVII
Na esquina da Rua dos Ourives deteve-o um ajuntamento de pessoas, e um préstito singular. Um homem, judicialmente trajado, lia em voz alta um papel, a sentença. Havia mais o juiz, um padre, soldados, curiosos. Mas, as principais figuras eram dois pretos. Um deles, mediano, magro, tinha as mãos atadas, os olhos baixos, a cor fula, e levava uma corda enlaçada no pescoço; as pontas do baraço iam nas mãos de outro preto. (…) Eis o réu que sobe à forca. Passou pela turba um frêmito. O carrasco pôs mãos à obra.

Em sua produção literária, Machado de Assis denuncia a violência da sociedade escravagista. Na cena descrita acima, um elemento que ressalta essa violência é uma diferença existente entre os dois homens negros.
O que permite a ação do outro preto mencionado no texto é a sua:

a) função
b) origem
c) instrução
d) personalidade

07) Capítulo LV
A última hipótese trouxe à fisionomia do Palha um elemento novo, que não sei como chame. Desapontamento? (…) Vá desapontamento. Misturem-lhe o pesar da separação, não esqueçam a cólera que primeiro trovejou surdamente, e não faltará quem ache que a alma deste homem é uma colcha de retalhos. Pode ser; moralmente as colchas inteiriças são tão raras!

No trecho, observa-se a reação de Cristiano Palha à decisão de Rubião de voltar para Minas, o que faz o narrador se referir à sua alma como uma colcha de retalhos.
Com base na trajetória de Cristiano Palha, essa descrição enfatiza que o perfil desse personagem se constitui a partir de:

a) emoções sustentadas pelo impulso
b) atitudes pautadas pelo oportunismo
c) posicionamentos articulados pelo idealismo
d) princípios estabelecidos pelo conhecimento

08) Capítulo LXIX
O narrador do romance, em diversos momentos, explicita que está escrevendo uma obra de ficção, o que representa um processo literário chamado metaficção.

Uma passagem deste capítulo que evidencia esse processo é:

a) É de saber que tinham decorrido oito meses desde o princípio do capítulo anterior, e muita coisa estava mudada.
b) Rubião estremeceu; a suposição de que naquele Quincas Borba podia estar a alma do outro nunca se lhe varreu inteiramente do cérebro.
c) Atrás dos motivos de recusa, vieram outros contrários. E se o negócio rendesse? Se realmente lhe multiplicasse o que tinha?
d) Não se admirava de nada. Se um dia acordasse imperador, só se admiraria da demora do Ministério em vir cumprimentá-lo.

09) Capítulo CXLII
A expressão “Conversar com os seus botões”, parecendo simples metáfora, é frase de sentido real e direto. Os botões operam sincronicamente conosco; formam uma espécie de senado, cômodo e barato, que vota sempre as nossas moções.
“Conversar com os seus botões” é uma metáfora gasta, um clichê.

No trecho, essa metáfora é revitalizada pois passa por um processo de:

a) ampliação
b) oposição
c) restrição
d) injunção

10) Capítulo CXLVIII
Uma só pessoa, o Dr. Camacho, posto julgasse que os bigodes e a pera ficavam muito bem ao amigo, ponderou que era de bom aviso não alterar o rosto, verdadeiro espelho da alma, cuja firmeza e constância devia reproduzir.

Com o comentário acima, o narrador sintetiza um conflito presente em todo o romance.
Esse conflito se estabelece entre os seguintes aspectos:

a) ordem e desordem
b) essência e aparência
c) juventude e maturidade
d) individualismo e solidariedade

11) Capítulo CLV
Espalhou-se a nova mania de Rubião. Alguns, não o encontrando nas horas do delírio, faziam experiências, a ver se era verdadeiro o boato; encaminhavam a conversação para os negócios de França e do imperador. Rubião resvalava ao abismo, e convencia-os.

O narrador, em vários capítulos, emprega a metáfora do abismo, antecipando o seguinte problema sofrido por Rubião:

a) falência
b) loucura
c) solidão
d) traição

12) Capítulo CLXXXVIII
D. Fernanda é a única personagem do romance dotada de “simpatia universal”, fazendo com que atue como elemento de contraste em relação às demais personagens.

Uma passagem do romance que ilustra esse contraste está transcrita em:

a) D. Fernanda levou o marido para um gabinete, e, à força de beijos, consolou-o daquele golpe. Ao almoço, já ele sorria, ainda que de um sorriso pálido;
b) No domingo seguinte, D. Fernanda foi à igreja de Santo Antônio dos Pobres. Acabada a missa, viu surgir do movimento dos fiéis que se cumprimentavam entre si, ou saudavam o altar, nada menos que o primo, ereto, risonho, gravemente trajado, estendendo-lhe a mão.
c) A compaixão de D. Fernanda tinha-a impressionado muito; achou-lhe um quê distinto e nobre, e advertiu que se a outra, sem relações estreitas nem antigas com Rubião, assim se mostrava interessada, era de bom tom não ser menos generosa.
d) Quincas Borba acudiu ao chamado, não pulando, nem alegre. D. Fernanda inclinou-se, perguntou-lhe pelo amigo, se estava longe, se queria ir vê-lo.

13) (1) Capítulo XLI
Tinha razão, deviam separar-se; só lhe pedia uma coisa, duas coisas; a primeira é que não esquecesse aqueles dez minutos sublimes; a segunda é que, todas as noites, às dez horas, fitasse o Cruzeiro, ele o fitaria também, e os pensamentos de ambos iriam achar-se ali juntos,
(2) Capítulo XCVII
Quando cansou, olhou para o céu; lá estava o Cruzeiro… Oh! Se ela houvesse consentido em fitar o Cruzeiro! Outra teria sido a vida de ambos. A constelação pareceu confirmar este modo de sentir, fulgurando extraordinariamente;
(3) Capítulo CCI
Mas, vendo a morte do cão narrada em capítulo especial, é provável que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá o título ao livro, (…) Eia! Chora os dois recentes mortos, se tens lágrimas. Se só tens riso, ri-te! É a mesma coisa. O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens.

Em (1) e (2), o narrador apresenta a perspectiva de Rubião acerca da constelação do Cruzeiro do Sul; em (3), o narrador apresenta a própria perspectiva sobre esse conjunto de estrelas.
A perspectiva de Rubião e a do narrador podem ser caracterizadas, respectivamente, como:

a) flexível – rígida
b) crédula – cética
c) individual – social
d) ousada – conformista

14) “A realidade é boa, o realismo é que não presta para nada.”
A declaração acima foi publicada por Machado de Assis num artigo de jornal.

A frase do narrador de Quincas Borba que melhor se associa à declaração acima é a seguinte:

a) A imaginação não podia mais, e a realidade próxima atraiu-lhe a vista.
b) Já é muito concertar farrapos de realidade.
c) Rubião, na rua, voltou a cabeça para todos os lados, a realidade apossava-se dele e o delírio esvaía-se.
d) Rubião precisava de um pedaço de corda que o atasse à realidade, porque o espírito sentia-se outra vez presa da vertigem.

Resolução das Questões do Livro Quincas Borba

01) A questão aborda a percepção de Rubião sobre sua nova condição social. Ao comparar o passado como professor e o presente como capitalista, Rubião manifesta um fascínio pela ostentação pessoal e pela sensação de propriedade que suas novas posses lhe proporcionam. Alternativa correta: d) fascínio pela ostentação pessoal

02) A questão explora a figura de linguagem que melhor caracteriza o protagonista Rubião dentro do contexto do capitalismo emergente no Brasil. A opção correta é “metonímia”, pois essa figura de linguagem é utilizada para descrever Rubião, associando-o ao contexto capitalista de forma indireta. Alternativa correta: d) metonímia

03) A questão examina a filosofia do Humanitismo, defendida por Quincas Borba, que é uma caricatura dos princípios deterministas do século XIX. Nesse contexto, a prática autorizada aos indivíduos seria “defender a guerra”, uma vez que a filosofia propõe uma lógica de sobrevivência do mais forte. Alternativa correta: c) defender a guerra

04) A expressão “suportar com filosofia” sugere uma aceitação serena das adversidades, refletindo uma postura resignada e de aceitação diante das dificuldades. Alternativa correta: b) aceitação

05) A contradição na relação entre Cristiano Palha e Sofia Palha está em “a intimidade do casal é exposta”. Cristiano utiliza a aparência da esposa para ostentar sua “ventura particular”, o que revela a contradição entre a intimidade do casal e sua exposição pública. Alternativa correta: b) a intimidade do casal é exposta

06) A questão destaca a violência da sociedade escravagista, que é um tema recorrente na obra de Machado de Assis. O que permite a ação do segundo homem negro mencionado no texto é sua “função”, demonstrando como o papel social e as circunstâncias podem criar hierarquias entre pessoas na mesma condição racial. Alternativa correta: a) função

07) A descrição de Cristiano Palha como uma “colcha de retalhos” enfatiza que seu perfil é constituído por “atitudes pautadas pelo oportunismo”. Essa descrição reflete a complexidade e a ambiguidade de seu caráter. Alternativa correta: b) atitudes pautadas pelo oportunismo

08) A questão trata do processo de metaficção, um recurso literário onde a obra reflete sobre sua própria criação e ficcionalidade. A alternativa que evidencia esse processo é a primeira, que indica uma passagem de tempo e a mudança de situações, lembrando ao leitor que está dentro de uma narrativa controlada pelo autor. Alternativa correta: a) É de saber que tinham decorrido oito meses desde o princípio do capítulo anterior, e muita coisa estava mudada.

09) A revitalização da metáfora “conversar com os seus botões” ocorre por meio de “ampliação”, quando ela é apresentada como uma interação literal e contínua entre os botões e o indivíduo, atribuindo novos significados a uma expressão desgastada. Alternativa correta: a) ampliação

10) A questão aborda o conflito presente no romance entre “essência e aparência”, sintetizado no comentário de Dr. Camacho sobre o rosto do amigo. Esse conflito reflete um tema central do livro, onde as aparências muitas vezes contradizem a essência dos personagens. Alternativa correta: b) essência e aparência

11) A metáfora do “abismo” é usada repetidamente para representar o declínio mental de Rubião, sugerindo seu progressivo mergulho na “loucura”. Alternativa correta: b) loucura

12) A questão ilustra o contraste entre D. Fernanda e outras personagens, destacando sua “simpatia universal” e sua generosidade, que são pouco comuns no enredo. A passagem que ilustra esse contraste é a que mostra D. Fernanda agindo com compaixão e nobreza. Alternativa correta: c) A compaixão de D. Fernanda tinha-a impressionado muito; achou-lhe um quê distinto e nobre, e advertiu que se a outra, sem relações estreitas nem antigas com Rubião, assim se mostrava interessada, era de bom tom não ser menos generosa.

13) A perspectiva de Rubião é “crédula”, pois ele ainda acredita na possibilidade de um encontro de almas ao contemplar o Cruzeiro. Já a perspectiva do narrador é “cética”, pois ele se distancia emocionalmente e questiona a ideia. Alternativa correta: b) crédula – cética

14) A frase do narrador que melhor se associa à declaração de Machado de Assis sobre a realidade e o realismo é: “Já é muito concertar farrapos de realidade.” Isso porque a frase reflete a dificuldade de lidar com a realidade e as limitações do realismo como representação. Alternativa correta: b) Já é muito concertar farrapos de realidade.

Livro Quincas Borba, de Machado de Assis

Agora sua informação está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia! CONHECER ➔

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *